Há muitos anos deixei a minha terra
Pra outras bandas busquei o meu destino
Esqueci minha vida de menino
Meu brejeiro sertão, meu pé de serra
Como um soldado que parte para a guerra
Eu parti sem saber se voltaria
Mas o destino reservou um belo dia
E quase que me mata de emoção
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
Quando o sol do sertão em mim bateu
Minha alma sertaneja se alegrou
A jaçanã na oiticica cantou
E seu canto na vazante estremeceu
Um caburé lá no oco apareceu
No pé da cerca correu uma cotia
Muito distante uma sanfona gemia
Na bela voz do querido Gonzagão
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
Quando eu cheguei no meio do terreiro
Meu cachorro foi logo festejando
Meu cavalo veio se aproximando
Relinchando, com seu espírito festeiro
No alpendre já tinha um sanfoneiro
Me esperando pra fazer uma folia
Apesar de ainda ser de dia
Nós fizemos aquela animação
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
Deixei minha mala em algum lugar
E, correndo, fui direto pra cozinha
No fogão, cozinhava uma galinha
Que pedi minha mãe pra preparar
E o cheiro se espalhava pelo ar
A quilômetros da fazenda se sentia
Eu jamais esquecerei daquele dia
O forró pegava fogo no salão
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
O café que na beira do fogão
Numa lata Pajeú tava esquentando
Na parede ao lado me olhando
O santo protetor, meu São João
Seu carneiro e o cajado em sua mão
Me festejavam por aquele belo dia
Depois lavei as mãos numa bacia
Com a água fresquinha do cacimbão
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
À minha frente avistei um aguidá
Que ficava no jirau, numa janela
Dirigi-me faminto pra panela
Com a galinha gordinha, a cozinhar
E sobre a mesa um bolo de fubá
Caprichado, feito por Maria
Apaixonada por mim e eu já sabia
Que’u era o dono daquele coração
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
Depois do almoço eu me deitei
No alpendre, numa rede de varanda
Na terreiro tinha um belo pé de manga
E essa fruta, deitado, ali, chupei
O resto, meu amigo, já nem sei
Pois aquela tarde toda eu dormia
Relaxado, na minha rede macia
Enquanto ouvia o piar de gavião
Outra vez eu voltei pro meu sertão
E a tristeza transformou-se em alegria.
Autor: João Félix
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