Acredito
que todos nós, homossexuais ou não, assumidos ou não, já sentimos
pelo menos uma pontinha de preconceito em alguém que faz parte da
família. E isso não precisa ser bem claro e explícito, pode muito
bem estar mascarado em um comentário como “Aquela bichinha…”
ou “Aquela sapatão…”, basta que ele seja dito com certo ar de
repulsa, aversão, raiva ou preconceito puro e simples. E é assim
que sempre acontece, sempre existe alguém pra dizer que é errado,
que não deve ser vivido, que Deus não aceita…
Uma
das coisas que me intriga muito, e que eu vejo acontecer
repetidamente, é o respeito e aceitação em relação a pessoas
gays que não façam parte da família, coexistindo com um
preconceito enorme contra gays que sejam da família. Assim, a pessoa
trata seus amigos gays numa boa, há respeito se o vizinho, um
conhecido ou amigo do trabalho for gay, mas se “isso” acontecer
dentro do seu núcleo familiar a coisa toma outro rumo. Eu, com o meu
pequeno conhecimento sobre o mundo e suas relações interpessoais
acredito que isso só pode ser gerado por um padrão social no qual a
homossexualidade ainda não é bem vista. Desse modo, as pessoas não
aceitam que um filho ou sobrinho seja homossexual porque acreditam
que certamente a sociedade passará a olhá-las de uma maneira
diferente, como se sua família tivesse sido acometida por um grande
mal que, quem sabe, pode até ser contagioso.
São
mães que nunca permitirão que o filho seja feliz porque a vizinha
não pode, de modo algum, saber que ele é gay e “as pessoas irão
falar”; são irmãs e irmãos que acreditam que todas as pessoas
acharão que eles também são gays; são avós pensando que você
nunca poderá escapar “se perder no mundo”. Enfim, são pessoas
que não querem ser excluídas da sociedade na qual vivem, que não
querem nada de “errado” com sua família e que têm como objetivo
principal criar uma família perfeita nos moldes tradicionais.
Além
disso, em várias famílias a não aceitação e a falta de respeito
são direcionados a todo e qualquer tipo de diferença. Ai se
encontram as pessoas verdadeiramente preconceituosas e, em alguns
casos, homofóbicas. O preconceito contra homossexuais é um dos mais
enraizados na nossa sociedade porque, na grande maioria das vezes,
ele vem de berço, junto com a educação ou com a falta dela.
Ninguém nasce preconceituoso, a discriminação não está na nossa
bagagem genética, ela foi ensinada há muitos de nós e enfatizada
durante toda a vida. Quem aqui, durante a infância, nunca ouviu,
durante uma brincadeira qualquer, alguém dizer que “menina não
faz isso” ou “que menino não faz aquilo”? Que não cresceu
ouvindo sobre o marido ou a esposa que teríamos em uma belíssima e
feliz relação heterossexual? É com esse e outros artifícios que a
sociedade nos molda como pessoas que nasceram para ser heterossexuais
(e nunca homossexuais) porque, de certo, nossos pais nunca pensaram
que poderíamos ser diferentes disso.
É
por isso tudo que vários pais resolvem nunca aceitar a orientação
sexual de seus filhos. É por isso também que muitos deles
demonstram reações negativas, ofensivas e até violentas quando
descobrem sobre a sexualidade dos filhos. E aqui eu digo que esse é
o pior dos preconceitos porque vêm da família que deveria proteger,
apoiar, dar colo, carinho e amor. Esses fatores fazem com que se
assumir na família possa ser até mais difícil do que se assumir
perante amigos e sociedade, já que pode causar uma perda da
convivência (quase) harmônica que existia. Pais e filhos sofrem,
brigam, se insultam e alguns acabam por adoecer psicológica e
fisicamente. Os pais, então, buscam uma explicação para a
homossexualidade dos filhos e, não raro, vão atrás de uma possível
cura ou aconselhamento nas igrejas, já que a sociedade também prega
que a vida de um homossexual será sempre regada a bebidas, drogas e
promiscuidade.
Há
uma coisa que a sociedade em geral precisa compreender: eles não
conseguirão mudar a orientação sexual de ninguém. No máximo
farão a pessoa acreditar que é melhor que ela seja assexuada ou
infeliz a ser homossexual, ou seja, que ela nunca se relacione com
ninguém ou que não mantenha relacionamentos nos quais não será
feliz. Imagino que muitas pessoas acreditam que esse seja um preço a
se pagar para ser devidamente aceito e amado.
Nós
precisamos de educação, incluindo aí uma educação que entenderá
a homossexualidade como um tipo de expressão da sexualidade. Esse
seria apenas um dos passos para melhorar o conceito que muitas
pessoas nutrem sobre homossexualidade.
Lembre-se
sempre que nenhuma família é maravilhosa e perfeita, que os pais
nem sempre aceitam seus filhos como são, independente de eles serem
ou não homossexuais. Sempre haverá cobrança, briga e discussão.
Fonte: Sapatômica
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