sábado, 3 de dezembro de 2016

Carta aos pais de um filho gay

Eu só peço 5 minutinho da atenção de vocês

Ruth Manus


Um dia encontrei uma amiga da minha mãe chorando de forma tão desesperada que tive certeza que um de seus filhos havia morrido. Meu coração foi à boca. Sabendo que todos estavam vivos, comecei a perguntar-me qual deles teria descoberto que sofria de uma grave doença. Nenhum. O choro da mãe era porque um dos filhos tinha revelado ser homossexual naquela manhã.


Eu não vou dizer que vocês, pais de filhos gays, não tenham razão para se preocupar. Têm sim. Todos os pais têm. Preocupar-se é a mais natural das características dos pais. Preocupam-se com a nossa alimentação, com os nossos agasalhos, com nossos estudos e, sobretudo com a forma como as pessoas que povoarão nosso caminho nos tratarão. E, sim, nesse ponto eu entendo a preocupação dos pais de um filho gay. Porque tem muito imbecil por aí. Mas o mais importante é que os primeiros imbecis desse caminho não sejam os próprios pais dessa pessoa.


Não escrevo este texto para os pais que acham que ser gay é uma ofensa a Deus, uma vergonha, uma aberração ou uma simples opção de um filho. Neste nível de ignorância eu acredito que seja inútil tentar penetrar. Escrevo esta carta, de coração, aos pais que não sabem bem como agir. Aos que teoricamente aceitam-nos, ou pelo menos pensam aceitar. Escrevo também aos pais que suspeitam ter um filho homossexual e não sabem por onde ir. Escrevo aos bons pais, que se esforçam para apoiá-los e que estão dispostos a fazer o melhor que podem.

O fato é que existem muitas léguas de distância entre o ato de aceitar e o ato de acolher. Entre a mera tolerância e a necessária compreensão. Entre o mero olhar sem censura e o tão esperado abraço que diz “eu te aceito, te acolho, te amo e me orgulho de você, independentemente de qualquer coisa”. Aceitar não é tudo. É só um primeiro passo.

Lembro-me bem da madrugada na qual um namorado terminou um relacionamento de 7 anos comigo. Destruída, fechei a porta para ele ir embora pela última vez e corri para o quarto dos meus pais, às 3 da manhã. Eu sabia que não estava sozinha e que a minha dor seria suportada por eles. Eu sabia ter rede. Já um amigo, gay, quando sofreu a mesma dor, foi chorar no banho. Saiu do banho olhando para baixo, fechou-se no quarto, esperando que seus pais- que aceitam sua homossexualidade- não perguntassem nada. Porque eles nem sabiam que ele vivia um relacionamento estável que já durava cerca de 3 anos.


A questão é: até quando tantos pais esconderão a poeira debaixo do tapete? “Seja gay, a gente tolera, mas saiba que nunca trataremos isso com naturalidade”. Esse é o discurso que ninguém diz e que segue velado em tantas famílias. É preciso abrir este caminho, mostrar aos seus filhos que vocês se interessam pela vida afetiva deles tanto quanto se interessariam pela de um filho hétero. É preciso sair da zona de conforto, que foca as conversas no trabalho, no dinheiro e nas amenidades, buscando fugir de tudo o que diz respeito à homossexualidade em si.

Não tenha medo de perguntar quais são os lugares que ele frequenta. Nem com quem ele vai, nem qual música toca. A vida de um gay não é mais nem menos promíscua que a de um hétero. Não é a orientação sexual que determina se a pessoa vai dormir com uma pessoa a vida inteira ou com 3 na mesma semana. Isso não tem nada a ver com ser gay ou não. Tenho amigos gays super caretas e amigas solteiras super liberais. Ninguém é melhor nem pior por isso. Livrem-se destes dogmas.

Participe da vida do seu filho gay. Pergunte sobre seus sonhos. Se ele quer casar, se vai querer festa, se vai querer um buquê, seja ele homem ou mulher. Pergunte se ele sonha com filhos. Se vai querer adotar, se pensa em inseminação ou numa barriga de aluguel. Pergunte se ele gosta daquelas camisas brancas que você compra para ele ou se preferia que elas fossem floridas. Pergunte à sua filha se ela se protege no sexo, ainda que saiba que o tipo de relação que ela mantém não resulta em gravidez. Mostre que você se importa e que o espaço de diálogo entre vocês pode ser cada vez maior.


Mostre ao seu filho que ele é muito mais importante do que seus amigos conservadores. Mostre que você está disposto a abrir mão destes seus “amigos” que ficam escandalizados com a homossexualidade, em respeito a ele. Mostre que este tipo de gente não te interessa mais, porque quem julga que seu filho não é bom o bastante por amar pessoas do mesmo sexo, merece todo o seu desprezo.

Faça com que eles percebam que, por você, tudo bem se a Tia Loló ficar chocada com o fato do sobrinho neto ser gay. Tia Loló deu sorte de estar viva em 2016 e ela precisa conviver com isso. Mostre ao seu filho que você não está mais preocupado em poupar a Tia Loló, o Tio Tonico, a prima Rosângela e seus trigêmeos, do que em fazer com que ele se sinta bem e livre na festa de família pela primeira vez. Quando a Tia Loló perguntar “como vão as namoradinhas do Rafael?” responda tranquilamente “é namoradinho, Tia Loló, ele se chama Mateus, é engenheiro, um rapaz ótimo.”. Se a Tia Loló engasgar com o amendoim, bata nas costas dela. Mas não bata no ego do seu filho, trancafiando-o num eterno armário de vidro.

Você nunca deixou seu filho chorar sozinho quando era criança. Você nunca se envergonhou do nariz escorrendo, nem da roupa suja no fim do dia. Você sempre se orgulhou daquela criança e dizia para quem quisesse ouvir “Sim! É meu filho!”. Por que isso haveria de mudar agora? Quais os olhares que passaram a ser mais importantes do que os olhares de amor dele para você e de você para ele? A quem você confere a legitimidade de julgar o seu filho a ponto de te tornar omisso na vida dele? A quem você se rende para não abraçá-lo da forma mais sincera e entregue?

Já é hora, mãe. Já é hora, pai. Acolham seus filhos de forma integral antes que seja tarde demais. Não compactuem com mais choro no banho, mais segredos, mais mentiras. Não abram mão de ouvir histórias boas, histórias alegres, histórias de amor. Nem abram mão da convivência com seus novos genros e noras.


Acima de tudo, não permitam que a noção de “amor incondicional” torne-se uma farsa na relação de vocês. Mostre ao seu filho todo dia que seu amor por ele é infinitamente maior do que a miséria humana que julga, aponta e condena determinadas formas de amar. Mostre ao seu filho que o mundo pode virar-se contra ele, mas que seus braços serão sempre um lugar seguro onde ele é bem-vindo por ser exatamente quem ele é.


Fonte: Estadão

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Doenças de verão: cuidados para proteger o seu pet

Veterinário explica os principais problemas de saúde que acometem os cães durante a estação mais quente do ano e como prevení-los



O verão brasileiro começa no próximo dia 21 de dezembro, e com a chegada da estação mais quente do ano, nada mais agradável que passar momentos de descontração com o animal de companhia. Mesmo com o clima favorável, é necessário ter cautela com os possíveis problemas relacionados ao período, como doenças e parasitas. A cinomose, parvovirose e leptospirose são algumas das doenças mais frequentes nessa época e são disseminadas entre os animais por meio do contato direto.

Segundo Leonardo Brandão, doutor em medicina veterinária e gerente de produto da Merial Saúde Animal, a leptospirose, por ser uma zoonose, é uma das enfermidades que apresenta maior preocupação, pois pode acometer cães e seres humanos.“A doença é transmitida principalmente por ratos e põe em risco pessoas e bichos que vivem em áreas em que se tem contato com esses roedores, mesmo áreas urbanas”, explica.

Água e alimentos podem ser contaminados por meio da urina do rato. Desta forma, os cães ficam vulneráveis ao contágio ao passearem pelas ruas e parques, pois a penetração da bactéria ocorre por meio das mucosas (olhos, narinas, boca) em contato com a água contaminada. “Em alguns casos, os cães apresentam sintomas brandos, que não são facilmente diagnosticados, desta forma podem eliminar a bactéria pela urina por muitos meses, isto se torna um grande risco para as pessoas que convivem ou tenham algum contato com esses animais”, alerta o especialista.

Cinomose e Parvovirose


Outra doença que merece atenção é a cinomose. Contagiosa, atinge o sistema nervoso dos cães e pode provocar a morte. De acordo com a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), enquanto a doença está praticamente erradicada em países desenvolvidos, no Brasil apenas um em cada cinco cães é vacinado.

A transmissão é feita entre os animais doentes por meio das secreções nasais, urina ou fezes dos cães acometidos. “Para identificar a doença, os sintomas iniciais são de uma gripe comum, tosse, espirros e pode evoluir para diarreia branda. Os sintomas graves, que ocorrem no último estágio, podem evoluir para convulsões, dificuldade na alimentação e na movimentação. Poucos animais resistem e os que conseguem sobreviver podem ficar com sequelas graves”, esclarece Brandão.

A parvovirose também é uma virose extremamente perigosa. Esta doença é conhecida por sua gravidade e elevada mortalidade, principalmente em filhotes, por conta do quadro de vômitos e diarreia. O contagio do vírus acontece pelo contato de cães com as fezes de animais doentes. O agente infeccioso da parvovirose apresenta resistência no ambiente e pode sobreviver por muitos meses.

Os primeiros sintomas são prostração, vômito e diarreia com sangue. “Em casos de animais que permaneceram doentes em um determinado ambiente, recomenda-se a limpeza e desinfecção do local com produtos contendo hipoclorito de sódio ou amônia quaternária, de modo a eliminar a presença do vírus”, aconselha o veterinário.

Prevenção


“É importante lembrar que essas são doenças graves mas que podem ser prevenidas por meio da vacinação. Desta forma, antes sair com o animal para viagens ou passeios é importante que a carteira de vacinação esteja em dia. Se as doses estiverem atrasadas é recomendado vacinar o animal – adulto com pelo menos sete dias de antecedência – pois a imunidade leva alguns dias para ser desenvolvida.

No caso de filhotes é necessária a finalização do protocolo de vacinação inicial composta por pelo menos três doses,” ressalta o dr. Leonardo. Vale lembrar que um médico veterinário é o único profissional capacitado para realizar a vacinação dos animais. Levando seu animal em um profissional ele poderá fazer o exame completo e assim determinar se ele está em condições de receber as vacinas, ou ainda, qual o produto mais indicado para cada caso.

Quando o animal já estiver infectado por alguma doença causada por vírus, o tratamento vai combater as infecções secundárias e a manutenção de um bom estado nutricional. “O objetivo é melhorar as condições do animal por meio de tratamento sintomático e de suporte, uma vez que não há um tratamento específico. O ideal é oferecer condições para que ele se recupere naturalmente”, acrescenta o especialista.



Fonte: PetMag