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segunda-feira, 23 de maio de 2016

O pior dos preconceitos: o da família!

Acredito que todos nós, homossexuais ou não, assumidos ou não, já sentimos pelo menos uma pontinha de preconceito em alguém que faz parte da família. E isso não precisa ser bem claro e explícito, pode muito bem estar mascarado em um comentário como “Aquela bichinha…” ou “Aquela sapatão…”, basta que ele seja dito com certo ar de repulsa, aversão, raiva ou preconceito puro e simples. E é assim que sempre acontece, sempre existe alguém pra dizer que é errado, que não deve ser vivido, que Deus não aceita…

Uma das coisas que me intriga muito, e que eu vejo acontecer repetidamente, é o respeito e aceitação em relação a pessoas gays que não façam parte da família, coexistindo com um preconceito enorme contra gays que sejam da família. Assim, a pessoa trata seus amigos gays numa boa, há respeito se o vizinho, um conhecido ou amigo do trabalho for gay, mas se “isso” acontecer dentro do seu núcleo familiar a coisa toma outro rumo. Eu, com o meu pequeno conhecimento sobre o mundo e suas relações interpessoais acredito que isso só pode ser gerado por um padrão social no qual a homossexualidade ainda não é bem vista. Desse modo, as pessoas não aceitam que um filho ou sobrinho seja homossexual porque acreditam que certamente a sociedade passará a olhá-las de uma maneira diferente, como se sua família tivesse sido acometida por um grande mal que, quem sabe, pode até ser contagioso.

São mães que nunca permitirão que o filho seja feliz porque a vizinha não pode, de modo algum, saber que ele é gay e “as pessoas irão falar”; são irmãs e irmãos que acreditam que todas as pessoas acharão que eles também são gays; são avós pensando que você nunca poderá escapar “se perder no mundo”. Enfim, são pessoas que não querem ser excluídas da sociedade na qual vivem, que não querem nada de “errado” com sua família e que têm como objetivo principal criar uma família perfeita nos moldes tradicionais.

Além disso, em várias famílias a não aceitação e a falta de respeito são direcionados a todo e qualquer tipo de diferença. Ai se encontram as pessoas verdadeiramente preconceituosas e, em alguns casos, homofóbicas. O preconceito contra homossexuais é um dos mais enraizados na nossa sociedade porque, na grande maioria das vezes, ele vem de berço, junto com a educação ou com a falta dela. Ninguém nasce preconceituoso, a discriminação não está na nossa bagagem genética, ela foi ensinada há muitos de nós e enfatizada durante toda a vida. Quem aqui, durante a infância, nunca ouviu, durante uma brincadeira qualquer, alguém dizer que “menina não faz isso” ou “que menino não faz aquilo”? Que não cresceu ouvindo sobre o marido ou a esposa que teríamos em uma belíssima e feliz relação heterossexual? É com esse e outros artifícios que a sociedade nos molda como pessoas que nasceram para ser heterossexuais (e nunca homossexuais) porque, de certo, nossos pais nunca pensaram que poderíamos ser diferentes disso.

É por isso tudo que vários pais resolvem nunca aceitar a orientação sexual de seus filhos. É por isso também que muitos deles demonstram reações negativas, ofensivas e até violentas quando descobrem sobre a sexualidade dos filhos. E aqui eu digo que esse é o pior dos preconceitos porque vêm da família que deveria proteger, apoiar, dar colo, carinho e amor. Esses fatores fazem com que se assumir na família possa ser até mais difícil do que se assumir perante amigos e sociedade, já que pode causar uma perda da convivência (quase) harmônica que existia. Pais e filhos sofrem, brigam, se insultam e alguns acabam por adoecer psicológica e fisicamente. Os pais, então, buscam uma explicação para a homossexualidade dos filhos e, não raro, vão atrás de uma possível cura ou aconselhamento nas igrejas, já que a sociedade também prega que a vida de um homossexual será sempre regada a bebidas, drogas e promiscuidade.

Há uma coisa que a sociedade em geral precisa compreender: eles não conseguirão mudar a orientação sexual de ninguém. No máximo farão a pessoa acreditar que é melhor que ela seja assexuada ou infeliz a ser homossexual, ou seja, que ela nunca se relacione com ninguém ou que não mantenha relacionamentos nos quais não será feliz. Imagino que muitas pessoas acreditam que esse seja um preço a se pagar para ser devidamente aceito e amado.

Nós precisamos de educação, incluindo aí uma educação que entenderá a homossexualidade como um tipo de expressão da sexualidade. Esse seria apenas um dos passos para melhorar o conceito que muitas pessoas nutrem sobre homossexualidade.


Lembre-se sempre que nenhuma família é maravilhosa e perfeita, que os pais nem sempre aceitam seus filhos como são, independente de eles serem ou não homossexuais. Sempre haverá cobrança, briga e discussão.




Fonte: Sapatômica

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Orações para Bobby - Um Filme que Muitas Mães Deveriam Assistir



O filme Orações Para Bobby narra a história real de Mary Griffith, vivida por Sigourney Weaver. A mãe presbiteriana que se arrepende de tentar curar o filho homossexual que se mata depois de não aguentar tamanha pressão. O filme estreou na TV americana em 2009, na noite anterior ao Oscar e mudou paradigmas. A história se passou nos anos 80 em Walnut Creek, Califórnia, próximo a São Francisco. Em 27 de agosto de 1983, Bobby Griffith tirou sua vida ao pular de um viaduto sobre uma autoestrada, aos 20 anos, em Portland, Oregon para onde se mudou. O filme e o livro são bem fiéis a história real. Bobby é retratado moreno no filme mas era loiro na vida real. Ele também tinha um corpo mais atlético.

Por quase quatro anos ele sofreu pressão de sua família para deixar sua homossexualidade. Sua mãe, religiosa fervorosa, não admitia a homossexualidade do filho, ao qual denominava de doença, ou aberração, e contra qual usava a Bíblia para respaldar seus preconceitos. 

Os questionamentos de Bobby a Deus, suas frases de auto rejeição baseados nos ensinamentos que recebeu, deixados em um diário, apontam claramente como a sua religiosidade em uma igreja que o condenava ao inferno e a falta de apoio da família foram cruciais em sua decisão de acabar com a própria vida. Mais uma história que ainda hoje se repete.

Em entrevista recente, a mãe de Bobby, Mary Griffith, afirmou que o irmão só contou que Bobby era gay depois que ele tentou se matar e que ele já sabia do fato há mais de 2 anos. Ela contou ainda que só percebeu que o filho não escolheu ser gay quando ele morreu e depois de se informar, algo que lamenta não ter feito antes. Para os pais, ela dá um recado: “Eu falei com muitos pais nesses anos. E eu acho que eu só poderia dizer a eles para que ouçam seus filhos e não tentem fazer prevalecer suas opiniões sobre as deles”. A história virou o livro "Prayers for Bobby: A Mother's Coming to Terms with the Suicide of Her Gay Son", em 1995, com diversas passagens do diário de Bobby. O filme foi lançado em DVD, nos EUA, em 2010 e recebeu diversos prêmios.

Os pais de Bobby ainda vivem em Walnut Creek. Mary ainda participa eventualmente da PFLAG - Pais, Família e Amigos de Lésbicas e Gays, associação que aparece no filme. Abaixo, leia o depoimento feito por Mary Griffith em uma reunião do conselho o condado sobre a celebração de um dia para a liberdade gay, 8 meses após a morte de seu filho, em que ela defende a comunidade gay pela primeira vez. A passagem foi transformada em um dos momentos mais comoventes do filme:

“Homossexualidade é um pecado. Homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno. Se quisessem mudar, poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação, poderiam ser normais de novo. Se eles ao menos tentassem e tentassem de novo em caso de falha. Isso foi o que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay.

Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo amargamente de minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Percebo que tudo o que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu o coração para mim... eu não estaria aqui hoje, com vocês, plenamente arrependida.

Eu acredito que Deus foi presenteado com o espírito gentil e amável do Bobby. Perante Deus, gentileza e amor é tudo. Eu não sabia que, cada vez que eu repetia condenação eterna aos gays... cada vez que eu me referia ao Bobby como doente e pervertido e perigoso às nossas crianças... sua auto-estima e seu valor próprio estavam sendo destruídos. E finalmente seu espírito se quebrou alem de qualquer conserto. Não era desejo de Deus que o Bobby debruçasse sobre o corrimão de um viaduto e pulasse diretamente no caminho de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância e do medo de seus pais quanto à palavra “gay”.

Ele queria ser escritor. Suas esperanças e seus sonhos não deveriam ser tomados dele, mas se foram. Há crianças como Bobby presentes nas suas reuniões. Sem que vocês saibam, elas estarão ouvindo enquanto vocês ecoam ‘amém’. E isso logo silenciará as preces delas. Suas preces para Deus por entendimento e aceitação e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio e medo e ignorância da palavra ‘gay’ silenciarão essas preces. Então... Antes de ecoar ‘Amém’ na sua casa e no lugar de adoração, pensem. Pensem e lembrem-se. Uma criança está ouvindo.” (Mary Griffith)



Se quiser assistir ao Filme no Youtube: Orações Para Bobby



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Igreja X Homossexualidade

Muito se comenta sobre o fato da Santa Sé (o Vaticano) opor-se a união entre pessoas do mesmo sexo. O que falta é que alguém defina qual o real papel da Igreja. Vamos tentar fazê-lo agora. E que eu esteja livre da Excomunhão por tentar... 
Começando de baixo, vamos atentar ao papel dos Padres, que têm por dever de ofício preocupar-se com o que podemos chamar de “eterno”. Para a igreja, não se concebe imaginar a moral como algo passível de ser condicionada. Se Deus, por meio das Escrituras, disse que a homossexualidade é um pecado, quem somos nós, simples mortais, para desmentir o Altíssimo. A Sua palavra, em princípio, não pode ser objeto de negociação. 
Não nos restam dúvidas de que os textos canônicos não são nem um pouco simpáticos a homossexualidade. Apesar de algumas passagens do Antigo Testamento serem lidas como relativamente tolerantes (atenção especial aos trechos que falam do amor entre Jônatas e Davi, que muitos entendem como carnal, descritos em 1 Samuel, 18 e em 2 Samuel, 1), em geral a marca é a do opróbrio. Mas é no catecismo que o Vaticano dá nome as coisas. 
No catecismo, a Santa Sé qualifica as relações homossexuais ("homosexualitas relationes" – adoro ler essas coisas em latim) como depravações graves ("graves depravationes") e totalmente contrárias à lei natural ("legi naturali contrarii"). Ele afirma ainda que as tendências homossexuais são uma propensão objetivamente desordenada ("propensio objective inordinata"). Por fim, relaciona os pecados graves contra a castidade, e menciona, pela ordem: "masturbatio, fornicatio, pronographia et homosexuales usus". 
Mas não pensem que essa é uma exclusividade do catolicismo. Embora o conservadorismo de Roma em relação aos costumes sexuais seja "de jure" paradigmático, a tendência geral das religiões monoteístas pelo menos é a de condenar as variações menos comuns do ato sexual. 
A questão é que, na visão do Vaticano, o que está em jogo é muito mais do que direitos dos homossexuais. Como a moral é incondicionada, transigir num detalhe seria renunciar ao dogma. O que rui não é uma simples tradição, mas o próprio edifício lógico sobre o qual a igreja se assenta. Se o que Deus disse aos homens não precisa valer, é a própria igreja que não precisa existir. Seria injusto julgar os padres sem compreender o alcance e a importância dos dogmas para uma igreja que pretende permanecer "in saecula saeculorum", isto é, "pelos séculos dos séculos", o que equivale mais ou menos a "para sempre". 
Evidente que nem tudo é apresentado assim de forma tão óbvia. Compreender as razões do Vaticano não implica acatá-las. Ainda tenho esperanças de que a Igreja Católica pode evoluir e mudar suas posições, como já fez algumas vezes ao longo da história. Não podemos esquecer que tudo é uma questão de interpretação. Mudanças desse calibre, quando ocorrem, dão-se no tempo da igreja, que não é de dias ou de anos, mas de séculos. 
Os padres estão certos em zelar pelo que julgam ser a verdade, assim como os homossexuais ao lutar pelos seus direitos, torna-se lícito então perguntar onde está a verdade. Não acredito muito em verdades, mas isso não me impede de sabiamente proclamar o que para mim é uma verdade. 
Estou plenamente convencido de muito poucas coisas, mas uma delas é a certeza de que a única forma de promover a convivência harmônica entre as pessoas é renunciando à pretensão de impor ao próximo as minhas verdades, os meus deuses e os meus demônios. Se há um erro essencial no catolicismo (e em outras religiões), é o de pretender-se universal. Isso ele não é. Nem de fato nem de direito.